Páginas

sábado, 17 de junho de 2017

Germinar

O microondas de casa pifou na terça e o moço que viria consertar me deu o cano ontem.

Hoje cedo esquentei o leite no fogão, uma experiência interessante, aparentemente corriqueira, fiquei lá olhando a leiteira que continha uma única xícara de leite, não deixei ferver e mesmo assim era um leite infinitamente quente. 

Fui esfria-lo, um movimento muito velho que consiste em passar da leiteira para a caneca e da caneca para a leiteira  repetidas vezes. Nesse ir e vir me lembrei da minha madrinha esfriando minha mamadeira, pensei na sensação serena que a quentura do vidro me oferecia. Sorri, pensei na mulher que sou hoje e na menininha que esperava a mamadeira na beira da pia.

No vai e vem do leite pensei na nossa pressa, na nossa tentativa de controlar tudo, no tempo de maturação das coisas e na nossa falta de fé e paciência para esperar. 

Quando será que a gente aprendeu a "desesperar"? 





sexta-feira, 2 de junho de 2017

Dá a mão e vem comigo.



Na minha família dificilmente existem declarações de sentimento dramáticas, normalmente em casa eu te amo vem com uma piada em seguida, se chorar já dá risada e toca o barco, talvez por isso manifestações sentimentais efusivas não sejam meu forte. Minha avó costumava demonstrar amor com uma bela macarronada, cuecas viradas em quantidades absurdas e descascando laranjas. 


Todos os dias depois do almoço meu avô chupava uma laranja, ele sabia descascar laranjas (Confesso que até hoje -27 anos- não sei) minha avó fazia mil coisas para ele, mas a laranja era só pra ser legal, só para mostrar afeto, a laranja era o eu te amo de todos os dias deles. 
Que particularidade bonita. 

Demorei muitos anos para entender as peculiaridades em demonstrar sentimentos, dentro e fora da minha família, decodificar que naquela ligação "tô passando aí desce pra me ver" tinha saudades, que o "refri grande é só um real a mais", era carinho, que em todos os "se você estiver afim eu vou junto" havia companheirismo e naqueles "tudo vai ficar bem" nas piores horas existia amor. 

Tenho preguiça do bom dia todos os dias - se eu mandar bom dia, boa tarde ou boa noite para alguém  é porque realmente estou afim, não é uma regra pré determinada, possuo uma espécie de problema com regras. 

Particularmente prefiro mensagens ou ligações as 4h que me acordem só pra ir ali tomar um café ou comer uma coxinha do que o tal bom dia todo dia.

O que me acalenta são os afetos dados subliminarmente, as conversas profundas, a parceria, as pequenices do dia-a-dia, peculiaridades de declarações silenciosas e espontâneas sem compromisso diário, por isso presta atenção se eu perguntar como foi seu dia hoje ou te fizer um misto quente no café da manhã - aceita, aceita que deve ser amor.