Sobre ordem, controle e equilíbrio ou a ausência de tudo isso.
Tirei esse fim de semana para arrumar: as roupas, os sapatos, os papéis,
as fotografias, as gavetas remexidas da vida, os assuntos inacabados.
Foi bom passar um tempo comigo, caminhar por minhas ruas favoritas,
passar pela loja preferida é não caçar algo para comprar, comer quando o
restaurante estava mudo e em silêncio, ver a chuva rala caindo. Senti que
poderia voltar e ordenar a vida, senti que era dona do meu equilíbrio, que
naquelas horas tinha ido me encontrar e já podíamos todos voltar para
casa.
Escolhi uma gaveta, arranquei tudo dela, separei o
que servia, o que era lixo, o que eu não queria e o que não era mais
necessário.
Fiz isso por longas horas. Controlando a imperfeição do meu entorno fui
alimentando a sensação de ordem, de equilíbrio e poder sobre tudo: eu escolhi
que vai ser assim, azul com azul, anel com anel, livro com livro,
ponto. Arrumar as coisas cria essa falsa ilusão de ordem, até você notar
que há bagunças mais profundas...
Era para tudo estar fleumaticamente resolvido, para
estar equilibrado, encaixado e definido. Mas sinto que o demônio da tasmânia
passou dentro de mim, absolutamente nada está em ordem, ele ainda mexe com meu
fluxo de pensamentos cotidianamente, o “adultismo” ainda causa efeitos
colaterais nocivos, contudo ainda há paz, aquela paz que só há quando eu e meus
outros "eus" nos encontramos e decidimos juntos fazer algo.