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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Carta aberta para João.

Olá João, tudo bem? 
É Patrícia filha da sua prima Cleusa. 
João, sei que não nos falamos muito, principalmente depois daquele café da manhã na casa da sua mãe em que você e o Nosferatu ficaram repetindo que eu votava no Lula e não comia mortadela. 

Estou escrevendo para você porque ontem excluí e bloqueei qualquer pessoa que tivesse manifestado o mínimo de empatia pela vitória do Bolsonaro, das minhas redes sociais, foi assim que cheguei em você João, tinha um post no seu feed pedindo para a "galera da resistência" ir trocar a resistência do chuveiro da sua casa. 

Eu resolvi, João, te explicar como eu me tornei parte dessa galera da resistência, escolhi você porque ao contrário do Nosferatu, do meu Pai, e outros homens heteros e brancos que conhecemos, acredito que você não é fascista, você só está perdido e um pouco desinformado. 

Eu fui caminhando para a esquerda aos poucos sabe, começou com 15/16 anos quando eu estava estudando história do Brasil e a DITADURA MILITAR, não é período viu, João, é DITADURA. Eu tive professores muito bons na escola pública. Inclusive os que não eram de esquerda. 

Na sequência entrei na faculdade, sabe João, lá onde estudei não aceitavam alunos PROUNI ou FIES, consigo me lembrar de apenas 4 alunos negros em 4 anos e meio, nenhum único professor negro me deu aula. Fui trabalhar no Ministério Público Federal, para estagiar lá somos submetidos a uma prova, e duas entrevistas, seria normal se não fosse o fato de apenas 5 universidades poderem indicar alunos para as vagas, lá João entendi que a luta por direitos é constante e que fora da minha bolha, no centro Paulista as leis nem sempre são cumpridas. 

Entendo que nossa realidade parece distante, nunca fui parada por um policial, com a sua idade eu já estava quase saindo da faculdade, mas o que vim te contar, João, é que não pelos mesmos motivos isso é fato, mas assim como você eu também sou minoria. 

Eu nasci naturalmente prejudicada no sistema, eu sou mulher, assim como os negros, como os LGBTI, os homens brancos e ricos também tentam me doutrinar, me calar, me oprimir. Eu sou e estou pela minoria. 

O que os homens cis não querem que você tenha, João, é representatividade, eles querem te manter no escuro, por isso eles aplaudem teu voto, ele legitima a supremacia deles. 

Vou continuar lutando, João, para que você se sinta representado nos teus governantes como eu me senti no dia 1º de Janeiro de 2011 quando Dilma foi empossada. 

Por fim João, ainda dá tempo de tirar sua camiseta verde e amarela (diferente da deles já que sua foi comprada no comércio popular), colocar uma camiseta branca e começa a ver em qual grupo você está representado. Não vai ser simples mas do lado de cá da linha tem apoio e resistência de gente que luta por você! 

PS: Se você quiser eu vou até sua casa trocar a resistência do seu chuveiro, mas será que algum dos homens que estão curtindo seus posts iriam topar fazer isso para você? Será, hein João? 

Patrícia.