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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Eurípides


Fim de tarde no caótico centro paulistano, gente que vai e vem nessa fila desregulada, eu estava indo quando vi Seu Jair o sangue viçoso vencia os lábios e lavava seu rosto com clara expressão clemente, a seu lado o policial tentava amparar ou passar algum conforto, pessoas palpitam se amontoam, eu sigo meu caminho e confesso que de inicio não me importei em demasia.

10 minutos depois cumprido meu objetivo lá estava eu na fila do vai e vem novamente agora vindo, do cruzamento podia se avistar que no entorno de Seu Jair há uma quantidade maior de gente, optei por seguir pelo outro lado da rua, olhei para Seu Jair as mãos sobre o corpo o rosto já limpo cabeça recostada sobre um pedaço de pano que acredito ser uma blusa... Torcia para ver seu abdômen contrair mesmo que pouco, para que houvesse algum sinal de movimento o pulôver de tom marrom se mantinha paralisado.

Lembre-me da canção de João Bosco que diz “Tá lá o corpo. Estendido no chão”.Seu Jair não está mais entre-nos, não estará novamente com os amigos, com a família, não vai mais estar na fila, nunca mais entrara em casa... Seu Jair não terá amanhã.

Não sei se ele chamava Jair, provavelmente não, mas é certo que tinha um nome, uma família, alguém querido e não achei justo contar essa historia o chamando de corpo, homem ou algo do tipo.Grande Seu Jair me fez pensar em muita coisa...

Do imediatismo que me nasceu faz algumas semanas, no tempo perdido com “pouca coisa” na nossa mania de achar que vamos ter amanhã, semana que vem... vamos deixar pra depois e quando é depois?

Vamos falar sem deixar subentendido, dar presentes sem data, ligar pra alguém que estamos com saudades... Cortar, pintar ou pentear o cabelo pro outro lado, comer comida Tailandesa, Indonésia ou Nordestina, comprar aquela camiseta fúcsia que você gostou, mas acha a cor forte pra você (vai lá experimenta!) deixemos de lado a falta de tempo.

Vivamos sentimentos contrários em abundância com exagero, amar alguém, se dar o direito de Não gostar de alguém, trocar esses alguéns, ter amigos de religiões, classes e tipos diferentes, reconquistar qualquer coisa perdida no caminho...

Alguém especial há alguns dias me disse “HOJE! Amanhã pode ser tarde demais” é exatamente isso que a gente precisa entender não existe tempo pra perder...