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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Caju

Sempre achamos que vamos ter um tempo infinito para as pessoas que amamos, esse engano nos faz dar menos do que gostaríamos, menos do que somos capazes, menos do que o outro merece, como se o seu melhor amigo não pudesse sofrer um acidente e entrar em coma, como se sua avó fosse sempre estar lá na casa dela, como se ir trabalhar em Dubai não fosse possibilidade viável para o seu irmão.

Esses dias um amigo disse que lembra de mim sempre que escuta Exagerado, acho que é porque eu não gosto dos meios, que tudo para mim é sempre muito e deve ser por isso que nos últimos dias eu ando tão bem. 

Acho que andei topando muitas histórias na linha do meio, boas, mas ainda assim meias historias.  E ai surgiu essa e exatamente ao contrario do imaginado, não respeitou linha, espaço, tempo, validade. Consciente, desejosa, achei que dessa vez seria bom exagerar. Talvez por falta de tempo  a intensidade tenha superado a lógica.

Pensei em te dar de presente um dos meus livros favoritos, mesmo sem saber o que você gosta de ler -acho que a história combina contigo -  depois achei que poderia ser legal te dar um cd de uma das bandas que eu amo,  é absolutamente diferente de tudo que você escuta, acho que por isso seria um bom presente, ai fiz esse texto... Faz um tempo eu aprendi que essa é minha melhor forma de me dar para alguém.





sexta-feira, 5 de junho de 2015

Salazar

As vezes tenho a sensação que preciso pedir desculpas a todos aqueles para quem não me abri. Para toda pessoa que cruzou meu caminho e por acaso, receio, tolice ou simples descuido eu não estava aberta a receber.

Desculpa a todo sorriso que no moinho da rotina massacrante eu não retribui, pelos olhos serrados as mãos estendidas em minha direção, ofertando ou suplicando acolhida.

Perdoem a amizade que os neguei, perdoem o conforto que nunca vou oferecer, perdoem meu melhor que jamais conhecerão.

Sigam com coragem, que "o que não foi é", guardem magoa se assim preferirem, mas cientes de que já fui anistiada.



sábado, 11 de abril de 2015

Dileto


É próprio das histórias terem um final. Mas, felizes para sempre seria um clichê indigno para nós dois. 

A gente precisa dar tchau um para o outro, prometo controlar meu intenso desejo de dizer: fica! Fica hoje, fica mais, fica até eu sentir vontade real de te expulsar de mim. 

Li um texto essa manhã que falava sobre nossas janelas, que fechar uma janela é dizer ao universo que você está pronto para abrir outra, é tempo de admirar novas paisagens. 

Necessito de panoramas mais cabais. Vou te dar tchau, fechar nossas janelas, perdoa o texto curto e saiba que em você vai continuar morando minha vista predileta. 











sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entropia

Sobre ordem, controle e equilíbrio ou a ausência de tudo isso. 


Tirei esse fim de semana para arrumar: as roupas, os sapatos,  os papéis, as fotografias, as gavetas remexidas da vida, os assuntos inacabados. 

Foi bom passar um tempo comigo, caminhar por minhas ruas favoritas, passar pela loja preferida é não caçar algo para comprar, comer quando o restaurante estava mudo e em silêncio, ver a chuva rala caindo. Senti que poderia voltar e ordenar a vida, senti que era dona do meu equilíbrio, que naquelas horas tinha ido me encontrar e já podíamos todos voltar para casa. 

Escolhi uma gaveta, arranquei tudo dela, separei o que servia, o que era lixo, o que eu não queria e o que não era mais necessário. 

Fiz isso por longas horas. Controlando a imperfeição do meu entorno fui alimentando a sensação de ordem, de equilíbrio e poder sobre tudo: eu escolhi que vai ser assim, azul com azul, anel com anel, livro com livro, ponto. Arrumar as coisas cria essa falsa ilusão de ordem, até você notar que há bagunças mais profundas... 

Era para tudo estar fleumaticamente resolvido, para estar equilibrado, encaixado e definido. Mas sinto que o demônio da tasmânia passou dentro de mim, absolutamente nada está em ordem, ele ainda mexe com meu fluxo de pensamentos cotidianamente, o “adultismo” ainda causa efeitos colaterais nocivos, contudo ainda há paz, aquela paz que só há quando eu e meus outros "eus" nos encontramos e decidimos juntos fazer algo.