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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Gargalo

Hoje eu almocei no lugar em que costumeiramente como, a comida é boa, o local é limpo, o preço é justo e gosto das pessoas que comem por lá, nessa nova fase de almoços solitários isso vem sendo importante.

Sentei-me, outra alma solitária pediu licença e se instalou na minha frente, meu prato demorou muito mais que o dele, assim o deixando partir antes, fique ali de frente para o espelho, o reflexo foi interrompido algumas vezes, mas apenas uma delas me tocou, um senhor, velho, calça de moletom cinza, agasalho azul marinho, tênis da mesma cor, um simpático chapéu caqui, duas sacolas e óculos preto, andou de um lado a outro na busca de duas cadeiras, achou.

Nessa hora eu já comia sem prestar muita atenção na minha atividade, observar aquele instante alheio me parecia bem mais inspirador, uma senhora se aproximou, sabiamente eles usaram uma das bolsas para reservar a cadeira, ela foi ate o balcão, ele já sentado passou um guardanapo no tampo da mesa, uniu as mãos e curvou-se em agradecimento, lembrei tanto do meu avô, a primeira lágrima me venceu, veio de dentro e sem que eu mexesse um único músculo escorreu, ela voltou com uma garrafa d'água e um copo, se sentou ao lado dele.

Contemplando o momento deles pensei nos meus avós, pensei sobre envelhecer, gostaria de estar mais perto para saber o que conversavam, ajeitados serviram-se de água, ele ficou com o copo e ela serrando os olhos bebeu uma porção generosa no gargalo, eu sorri e mais um bocado de lágrimas me escaparam, pensei em ter alguém com quem envelhecer, alguém provavelmente diferente de mim que não goste de tomar água no gargalo. 

Levantei-me, recolhi o casaco, a lata de coca-cola, minha incomensurável vontade de fotografá-los e sai carregada por inquietos sentimentos. Antes de cruzar a porta, buscar a vida e terminar mais um dia, eu, meus personagens, e minhas tralhas nos acomodamos no sofá, esmoía ainda aquele encontro tão meu, quando a vida me sorriu dizendo que não era um dia de passar vontades e que ela, a vida, é cheia de doces surpresas, como mostra a foto.





segunda-feira, 19 de maio de 2014

8760 dias e 730 horas

Sempre falamos de aniversario por aqui, afinal  tudo isso começou lá na puladinha dos 19 para os 20, a diferença dessa vez é que nunca comecei a aniversariar tão cedo e terminei tão tarde.

Eu fiquei mais velha, não só porque no dia 16/04/1990 meu pai parou o ônibus no meio do caminho para pegar minha mãe e levar ao hospital 3 dias antes do marcado para a cesárea, simplesmente aconteceu, nas minhas inquietudes cotidianas a vida me deixou mais minha.

Os 24 conheceram lá nos meados de fevereiro, veio derrubando tudo e "estragando" minha vidinha tortamente perfeita, fui aniversariando semana após semana, dia após dia desde então, chorei como não chorava há muito tempo, recebi noticias incomodas, pensei em coisas que pareciam esquecidas, revirei gavetas da alma e abracei meu caos.

Acolhi minhas falhas, meus acertos, cada mínimo detalhe desse personagem maluco, cada canto nessa mente instável, cada passo desse coração inquieto, me deixe ser silencio por inúmeras horas. No correr dos dias fui percebendo o que não me cabia mais, joguei fora todo excesso, reforcei as bases, dei espaço para a coragem circular, deixe o novo adentrar, aceite o que é imutável e tudo aquilo que a vida dá, tira, troca, transforma e só depois coloca no lugar. 



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sobrevivente

Falta tempo para escrever e isso me dói, me pego com as mãos correndo pelo teclado, desesperada por uma caneta e um pedacinho de papel. Há tanto que contar, argumentar e desconstruir, pesa saber que a falta de tempo rouba o meu melhor.


Por agora tudo que consigo dizer é que aos 13 chegar ao amanhã me parecia impossível e já tenho 24.